Dia da Terra

domingo, 22 de junho de 2008

Novo Buda


Menino buda' reaparece, dizem devotos.

Um adolescente nepalês conhecido como "menino Buda" reapareceu no domingo, segundo relatos de seus devotos.
O comitê que gerencia o local de meditação ocupado por Ram Bomjan, de 16 anos, divulgou um vídeo que aparentemente mostraria seus integrantes se encontrando com o menino perto de seu vilarejo, no sul do Nepal.
A meditação do adolescente e aparente jejum de dez meses atraiu a atenção do mundo todo antes de seu desaparecimento em março.
Muitos devotos foram até o vilarejo para ver o adolescente e deixar oferendas. Quando ele desapareceu, uma grande operação de busca foi estabelecida.

O presidente do comitê Om Namo Buddha Tapaswi Sewa Samiti (ONBTSS), Bed Bahadur Lama, disse a jornalistas que ele e seus colegas se encontraram com Bomjan a três quilômetros do seu lugar de meditação no bairro de Bara, no domingo.
Segundo Lama, o adolescente conversou com todos durante meia hora.
"Ele disse que vai reaparecer depois de seis anos. Ele pediu que monges rezassem no outro lugar onde Bomjan costumava meditar", disse.
"Eu fui embora, pois não havia paz lá...Diga a meus pais para não se preocuparem", teria dito Bomjan a Lama.
A notícia da suposta reunião é a primeira desde o desaparecimento do adolescente no dia 11 de março. Autoridades locais afirmam que não podem confirmar o encontro.
Os devotos e seguranças que cuidam de Bomjan iniciaram uma grande operação de busca na floresta de Ratnapuri e áreas vizinhas, mas até agora não conseguiram encontrar o adolescente.
Os devotos de Bomjan afirmam que ele é a reencarnação de Buda, que nasceu no Nepal há mais de 2,5 mil anos.
Segundo os devotos, o adolescente está meditando por dez meses, sem se alimentar ou beber água e é imune ao fogo e a mordidas de cobra. Estas alegações não passaram por uma verificação independente.
Cientistas não puderam examinar o adolescente, pois, segundo os devotos de Bomjan, isso iria perturbar sua meditação.

Fonte: BBC Brasil.


Buda

Buda (sânscrito-devanagari: बुद्ध, transliterado Buddha, que significa Desperto, Iluminado, que vem do radical "Budh", despertar) é um título dado na filosofia budista àqueles que despertaram plenamente para a verdadeira natureza dos fenômenos e se puseram a divulgar tal redescoberta aos demais seres. "A verdadeira natureza dos fenômenos", aqui, quer dizer o entendimento de que todos os fenômenos são impermanentes, insatisfatórios e impessoais. Tornando-se consciente dessas características da realidade, seria possível viver de maneira plena, livre dos condicionamentos mentais que causam a insatisfação, o descontentamento, o sofrimento.

Do ponto de vista da doutrina budista clássica, a palavra "Buda" denota não apenas um mestre religioso que viveu em uma época em particular, mas toda uma categoria de seres iluminados que alcançaram tal realização espiritual. Pode-se fazer uma analogia com a designação "Presidente da República" que refere-se não apenas a um homem, mas a todos aqueles que sucessivamente ocuparam o cargo. As escrituras budistas tradicionais mencionam pelo menos 24 Budas que surgiram no passado, em épocas diferentes.

O Budismo reconhece três tipos de Buda, dentre os quais o termo Buda é normalmente reservado para o primeiro tipo, o Samyaksam-buddha (Pali: Samma-Sambuddha). A realização do Nirvana é exatamente a mesma, mas um Samyaksam-buddha expressa mais qualidades e capacidades que as outras duas.

Atualmente, as referências ao Buda referem-se em geral a Siddhartha Gautama, mestre religioso e fundador do Budismo no século VI antes de Cristo. Ele seria, portanto, o último Buda de uma linhagem de antecessores cuja história perdeu-se no tempo. Conta a história que ele atingiu a iluminação durante uma meditação sob a árvore Bodhi, quando mudou seu nome para Buda, que quer dizer "iluminado"

Existe uma passagem nas escrituras [Anguttara Nikaya (II, 37)] - a qual é freqüentemente interpretada de maneira superficial - na qual o Buddha nega ser alguma forma de ser sobrenatural, mas esclarece:

"Brâmane, assim como uma flor de lótus azul, vermelha ou branca nasce nas águas, cresce e mantém-se sobre as águas intocada por elas; eu também, que nasci no mundo e nele cresci, transcendi o mundo e vivo intocado por este. Lembre-se de mim como aquele que é desperto."

Com isso ele rejeitava qualquer possibilidade de ser tomado como um Deus, mas reafirmava a característica transcendente da sua vivência espiritual e do caminho de libertação que oferecia para os demais seres. Nesse sentido, o Buddha exerceu um papel importante de democratização da religião que, até então, estava sujeita ao arbítrio da casta dos brâmanes.

Para Siddhartha Gautama não há intermediário entre a humanidade e o divino; deuses distantes também estão sujeitos ao karma em seus paraísos impermanentes. O Buda é apenas um exemplo, guia e mestre para os seres sencientes que devem trilhar o caminho por si próprios.

Dentre as religiões mundiais, a maioria das quais proclama a existência de um Deus criador, o Budismo é considerado incomum por ser uma religião não-teísta. Para o Buda, a chave para a libertação é a pureza mental e a compreensão correta, e por esse motivo ele rejeitou a noção de que se conquista a salvação implorando para uma deidade distante.

De acordo com o Buda Gautama, a felicidade Desperta do Nirvana que ele atingiu está ao alcance de todos os seres, porém na visão ortodoxa é necessário ter nascido como um ser humano. No Tipitaka - as escrituras budistas mais antigas - fala-se dos numerosos Budas do passado e suas vidas, bem como sobre o próximo Bodhissatva, que é chamado Maitreya.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Dia Mundial do Meio Ambiente


O melro

O melro, eu conheci-o:

Era negro, vibrante, luzidio,

Madrugador, jovial;

Logo de manhã cedo

Começava a soltar, dentre o arvoredo,

Verdadeiras risadas de cristal.

E assim que o padre-cura abria a porta

Que dá para o passal,

Repicando umas finas ironias,

O melro; dentre a horta,

Dizia-lhe: "Bons dias!"

E o velho padre-cura

não gostava daquelas cortesias.

O cura era um velhote conservado,

Malicioso, alegre, prazenteiro;

Não tinha pombas brancas no telhado,

Nem rosas no canteiro:

Andava às lebres pelo monte, a pé,

Livre de reumatismos,

Graças a Deus, e graças a Noé.

O melro desprezava os exorcismos

Que o padre lhe dizia:

Cantava, assobiava alegremente;

Até que ultimamente

O velho disse um dia:


"Nada, já não tem jeito!, este ladrão

Dá cabo dos trigais!

Qual seria a razão

Por que Deus fez os melros e os pardais?!"

E o melro entretanto,

Honesto como um santo,

Mal vinha no oriente

A madrugada clara,

Já ele andava jovial, inquieto,

Comendo alegremente, honradamente,

Todos os parasitas da seara

Desde a formiga ao mais pequeno insecto.

E apesar disto, o rude proletário,

O bom trabalhador,

Nunca exigiu aumento de salário.

Que grande tolo o padre confessor!


Foi para a eira o trigo;

E, armando uns espantalhos,

Disse o abade consigo:

"Acabaram-se as penas e os trabalhos."

Mas logo de manhã, maldito espanto!

O abade, inda na cama,

Ouvindo do melro o costumado canto,

Ficou ardendo em chama;

Pega na caçadeira,

Levanta-se dum salto,

E vê o melro, a assobiar, na eira,

Em cima do seu velho chapéu alto!

Chegou a coisa a termo

Que o bom do padre-cura andava enfermo;

Não falava nem ria,

Minado por tão íntimo desgosto;

E o vermelho oleoso do seu rosto

Tornava-se amarelo dia a dia.

E foi tal a paixão, a desventura

(Muito embora o leitor não me acredite),

Que o bom do padre-cura

Perdera o apetite!

Andando no quintal, um certo dia,

Lendo em voz alta o Velho Testamento,

Enxergou por acaso (que alegria!,

Que ditoso momento!)

Um ninho com seis melros, escondido

Entre uma carvalheira.

E ao vê-los exclamou enfurecido:

"A mãe comeu o fruto proibido;

Esse fruto era minha sementeira:

Era o pão, e era o milho;

Transmitiu-se o pecado.

E, se a mãe não pagou, que pague o filho.

É doutrina da Igreja. Estou vingado!"



E, engaiolando os pobres passaritos,

Soltava exclamações:

"É uma praga. Malditos!

Dão me cabo de tudo esses ladrões!

Raios os partam! Andai lá que enfim"

E deixando a gaiola pendurada,

Continuou a ler o seu latim,

Fungando uma pitada.

Vinha tombando a noite silenciosa;

E caía por sobre a natureza

Uma serena paz religiosa,

Uma bela tristeza

Harmónica, viril, indefinida.

A luz crepuscular

Infiltra-nos na alma dorida

Um misticismo heróico e salutar.

As árvores, de luz inda douradas,

Sobre os montes longínquos, solitários,

Tinham tomado as formas rendilhadas

Das plantas dos herbários.

Recolhiam-se a casa os lavradores.

Dormiam virginais as coisas mansas:

Os rebanhos e as flores,

As aves e as crianças.

Ia subindo a escada o velho abade;

A sua negra, atlética figura,

Destacava na frouxa claridade,

Como uma nódoa escura.

E, introduzindo a chave no portal,

Murmurou entre dentes:

"Tal e qual tal e qual!

Guisados com arroz são excelentes."

Nasceu a Lua. As folhas dos arbustos

Tinham o brilho meigo, aveludado,

Do sorriso dos mártires, dos justos.

Um eflúvio dormente e perfumado

Embebedava as seivas luxuriantes.

Todas as forças vivas da matéria

Murmuravam diálogos gigantes

Pela amplidão etérea.

São precisos silêncios virginais,

Disposições simpáticas, nervosas,

Para ouvir falar estas falas silenciosas

Dos mundos vegetais.

As orvalhadas, frescas espessuras,

Pressentiam-se quase a germinar.

Desmaiavam-se as cândidas verduras

Nos magnetismos brancos do luar.


E nisto o melro foi direito ao ninho.

Para o agasalhar, andou buscando

Umas penugens doces como arminho,

Um feltrozito acetinado e brando.

Chegou lá, e viu tudo.

Partiu como uma frecha; e, louco e mudo,

Correu por todo o matagal; em vão!

Mas eis que solta de repente um grito

Indo encontrar os filhos na prisão.

"Quem vos meteu aqui?!" O mais velho,

Todo tremente, murmurou então:

"Foi aquele homem negro. Quando veio,

Chamei, chamei Andavas tu na horta

Ai que susto, que susto!, ele é tão feio!

Tive-lhe tanto medo! Abre esta porta

E esconde-nos debaixo da tua asa!

Olha, já vão florindo as açucenas;

Vamos a construir a nossa casa

Num bonito lugar

Ai! quem me dera, minha mãe, ter penas

Para voar, voar!"

E o melro alucinado

Clamou:

"Senhor! senhor!

É porventura crime ou é pecado

Que eu tenha muito amor

A estes inocentes?!

Ó natureza, ó Deus, como consentes

Que me roubem assim os meus filhinhos,

Os filhos que eu criei!

Quanta dor, quanto amor, quantos carinhos,

Quanta noite perdida

Nem eu sei...

E tudo, tudo em vão!

Filhos da minha vida

Filhos do coração!!!

Não bastaria a natureza inteira,

Não bastaria o Céu par voardes,

E prendem-vos assim desta maneira!

Covardes!

A luz, a luz, o movimento insano,

Eis o aguilhão, a fé que nos abrasa

Encarcerar a asa

É encarcerar o pensamento humano.

A culpa tive-a eu! Quase à noitinha

Parti, deixei-os sós

A culpa tive-a eu, a culpa é minha,

De mais ninguém! Que atroz!

E eu devia sabê-lo!

Eu tinha obrigação de adivinhar

Remorso eterno! eterno pesadelo!


Falta-me a luz e o ar! Oh, quem me dera

Ser abutre ou fera

Para partir o cárcere maldito!

E como a noite é límpida e formosa!

Nem um ai, nem um grito

Que noite triste!, oh, noite silenciosa!"

E a natureza fresca, omnipotente,

Sorria castamente

Com o sorriso alegre dos heróis.

Nas sebes orvalhadas,

Entre folhas luzentes como espadas,

Cantavam rouxinóis.

Os vegetais felizes

Mergulhavam as sôfregas raízes

A procurar na terra as seivas boas,

Com a avidez e as raivas tenebrosas

Das pequeninas feras vigorosas

Sugando à noite os peitos das leoas.

A lua triste, a Lua merencória,

Desdémona marmórea,

Rolava pelo azul da imensidade,

Imersa numa luz serena e fria,

Branca como a harmonia,

Pura como a verdade.

E entre a luz do luar e os sons das flores,

Na atonia cruel das grandes dores,

O melro solitário

Jazia inerte, exânime, sereno,

Bem como outrora o Nazareno

Na noite do calvário!

Segundo o seu costume habitual,

Logo de madrugada

O padre-cura foi para o quintal,

Levando a Bíblia e sobraçando a enxada.

Antes de dizer missa,

O velho abade inevitavelmente

Tratava da hortaliça

E rezava a Deus-Padre Omnipotente

Vários trechos latinos,

Salvando desta forma, juntamente,

As ervilhas, as almas e os pepinos.


E já de longe ia bradando:

"Olé!

Dormiram bem? Estimo

Eu lhes darei o mimo,

Canalha vil, grandíssima ralé!

Então vocês, seus almas do Diabo,

Julgam que isto que era só dar cabo

Da horta e do pomar,

E o bico alegre e estômago contente,

E o camelo do cura que se aguente,

Que engrole o seu latim e vá bugiar!

Grandes larápios! Era o que faltava

Vocês irem ao milho,

E a mim mandar-me à fava!

Pois muito bem, agora que vos pilho

Eu vos ensinarei, meus safardanas!

Vocês são mariolões, são ratazanas,

Têm bico, é certo, mas não têm tonsura

E, nas manhas, um melro nunca chega

Às manhas naturais de um padre-cura.

O melhor vinho que encontrar na adega

É para hoje, olé! Que bambochata!

Que petisqueira! Melros com chouriço!

E então a Fortunata

Que tem um dedo e jeito para isso!

Hei-de comer-vos todos um a um,

Lambendo os beiços, com tal gana enfim,

Que comendo-vos todos, mesmo assim

Eu fico ainda quase em jejum!

E depois de vos ter dentro da pança,

Depois de vos jantar,

Vocês verão como o velhote dança,

Como ele é melro e sabe assobiar!"

Mas nisto o padre-cura, titubeante,

Quase desfalecendo,

Atónito de horror, parou diante

Deste drama estupendo:

O melro, ao ver aproximar o abade,

Despertou da atonia,

Lançando-se furioso contra a grade

Do cárcere. Torcia,

Para os partir os ferros da prisão,

Crispando as unhas convulsivamente

Com a fúria dum leão.

Batalha inútil, desespero ardente!

Quebrou as garras, depenou as asas

E alucinado, exangue,

Os olhos como brasas,

Herói febril, a gotejar em sangue,

Partiu num voo arrebatado e louco,

Trazendo, dentro em pouco,

Preso do bico, um ramo de veneno.

E belo e grande e trágico e sereno,

Disse:

"Meus filhos, a existência é boa

Só quando é livre. A liberdade é a lei,

Prende-se a asa mas a alma voa

Ó filhos, voemos pelo azul! Comei!" -

E mais sublime do que Cristo, quando

Morreu na Cruz, maior do que Catão,

Matou os quatro filhos, trespassando

Quatro vezes o próprio coração!

Soltou, fitando o abade, uma pungente

Gargalhada de lágrima, de dor,

E partiu pelo espaço heroicamente,

Indo cair, já morto, de repente

Num carcavão com silveiras em flor.


E o velho abade, lívido d'espanto,

Exclamou afinal:

"Tudo o que existe é imaculado e é santo!

Há em toda a miséria o mesmo pranto

E em todo o coração há um grito igual.

Deus semeou d'almas o universo todo.

Tudo que o vive ri e canta e chora

Tudo foi feito com o mesmo lodo,

Purificado com a mesma aurora.

Ó mistério sagrado da existência,

Só hoje te adivinho,

Ao ver que a alma tem a mesma essência,

Pela dor, pelo amor, pela inocência,

Quer guarde um berço, quer proteja um ninho!

Só hoje sei que em toda a criatura,

Desde a mais bela até à mais impura,

Ou numa pomba ou numa fera brava,

Deus habita, Deus sonha, Deus murmura!



Ah, Deus é bem maior do que eu julgava"

E quedou silencioso. O velho mundo,

Das suas crenças antigas, num momento,

Viu-o sumir exausto, moribundo,

Nos abismos sem fundo

Do temeroso mar do Pensamento.

E chorou e chorou A Igreja, a Crença,

Rude montanha, pavorosa, escura,

Que enchia o globo com a sombra imensa

Dos seus setenta séculos d'altura;

O Himalaia de dogmas triunfantes,

Mais eternos que o bronze e que o granito,

Onde aos profetas Deus falava dantes,

Entre raios e nuvens trovejantes,

Lá dos confins sidérios do infinito;

Esse colosso enorme, em dois instantes

Viu-o tremer, fender-se e desabar

Numa ruína espantosa,

Só de tocar-lhe a asa vaporosa

Duma avezinha trémula, a expirar!


.................................................


E, arremessando a Bíblia, o velho abade

Murmurou:

"Há mais fé e há mais verdade,

Há mais Deus concerteza

Nos cardos secos dum rochedo nu

Que nessa Bíblia antiga Ó Natureza,

A única Bíblia verdadeira és tu!..."